14 outubro 2014

De alguém em Hiroshima ou Nagasaki


Pisque seus olhos apenas uma vez
E imagine ao abrir que tudo esteja em ruinas
Tudo que você um dia amou e que já não existe mais
Aquela rua que você passava todos os dias
E que não está mais lá
Aquela árvore que você se abrigava nos dias quentes
E da qual não resta nem mais a sombra

Imagine tudo apagado do mapa
Não restando um lugar sequer que te fizesse crer
Que o passado foi real e não apenas um delíro
Imagine que seu pequeno mundo foi transformado em cinzas
Até aquilo de mais sólido na sua vida liquefeito em nada

Consegues imaginar a dor da ausência de tudo?
Consegues imaginar a descrença que terias
Diante de tudo que teus olhos estavam a testemunhar?
Consegues imaginar a loucura tomando conta da tua essência
Diante desse quadro de horror?
Consegues imaginar quanto terrível seria o grito de desespero
Que jamais conseguirias expelir de tua garganta?


(Talvez essa seja uma pálida ideia do que sofreu uma das milhares de almas vitimadas em Hiroshima e Nagasaki, segundos depois de tudo que para elas tinha significado ter sido tão violentamente roubado. E mergulhada em sua dor e descrença ficou incapaz de perceber milhares de outras almas em tristes condições semelhantes.)

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