20 dezembro 2021

Sintaxe à Vontade - Uma breve análise da música de O Teatro Mágico

 O texto abaixo representa uma breve análise que realizei no curso de Letras - UFPE sobre uma música que amo de O Teatro Mágico, Sintaxe à Vontade:


Por que essa letra me motivou a analisá-la?

A letra da música Sintaxe à Vontade, do grupo musical O Teatro Mágico, 
traz em si elementos que remetem a conceitos de conteúdos 
gramaticais, tendo assim uma relação bastante próxima com o curso de
Letras - Português. E ao brincar com a necessidade do leitor e do
ouvinte de terem um conhecimento prévio sobre esses conceitos, o
sentido da música nos convida a fazer uma reflexão sobre a vida.

Sobre o Gênero

O texto é uma música e poesia de autoria de Fernando Anitelli, cantor e
responsável pelo grupo musical O Teatro Mágico, que é um projeto que
reúne elementos do circo, do teatro, da poesia, da música, da literatura,
da política e do cancioneiro popular. Sendo a música analisada neste
trabalho sido lançada no primeiro álbum da banda, o Entrada para
Raros, em 2003.

Análise do texto

“Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão
Bem vindo ao Teatro Mágico!
sintaxe à vontade"

Para compreender essa estrofe, o leitor necessita ter um conhecimento
de mundo ou enciclopédico para reconhecer que o autor brinca com o
que seria uma introdução de uma apresentação circense “Senhoras e
senhores, respeitável público”, para o que de fato é apresentado
fazendo então uma troca de palavras mantendo a mesma sonoridade.
Assim como na parte Sintaxe à Vontade, o que por si também já é um
prelúdio do que será feito ao longo do texto a seguir, uma vez que a
Sintaxe é a parte da gramática que estuda as palavras enquanto
elementos de uma frase, e esse conhecimento será necessário ao leitor
para compreender o texto como um todo.

Então, após utilizar o conhecimento enciclopédico o leitor irá necessitar
usar o conhecimento gramatical (Conhecimento linguístico) para que
possa entender o significado do texto, como podemos observar no
seguinte trecho:

“Todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser
Todo verbo é livre para ser direto e indireto
Nenhum predicado será prejudicado
Nem tão pouco a frase, nem a crase, nem a vírgula e ponto final!”

Note-se que, no uso da palavra “sujeito” o leitor necessita compreender
a função de um sujeito na oração, e que o autor utiliza-se desse
conhecimento prévio para poder dizer que toda pessoa é livre para fazer
o que quiser (conjugar o verbo que quiser), então aqui o leitor precisa
também utilizar-se do conhecimento ilocucional, que é o conhecimento
utilizado para se entender o objetivo ou propósito do autor.

Após ele fazer essa relação entre conceitos gramaticais e a liberdade do
indivíduo, ele faz uma comparação da vida com a gramática, que pode
ser compreendida como a soma de todos esses conceitos que ele está
explorando no texto.

“Afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas
E estar entre vírgulas pode ser aposto.
E eu aposto o oposto
Que vou cativar a todos
Sendo apenas um sujeito simples
Um sujeito e sua oração, sua pressa, sua prece”.

E no último verso dessa estrofe, vemos o autor extrapolar também o
conceito gramatical para correlacionar o conceito de que a oração

também pode ser relacionada ao sentido de prece, fazendo o leitor
novamente utilizar-se do seu conhecimento ilocucional.

“Que enxerguemos o fato
De termos acessórios para nossa oração
Separados ou adjuntos, nominais ou não
Façamos parte do contexto”

Ainda se utilizando do conhecimento linguístico ou gramatical do leitor, o
autor introduz que além do indivíduo devemos considerar também o que
lhe é externo, ou seja, os acessórios da nossa oração, que tanto pode
ser outros indivíduos (pois ele pode estar se referindo a outros sujeitos
atuantes dessa oração, sem tirar o protagonismo do sujeito principal)
ou outros elementos. Então temos aqui novamente a utilização do
conhecimento linguístico relacionado com o conhecimento ilocucional (a
intenção do autor).

“Sejamos todas as capas de edição especial
Mas, porém, contudo, entretanto, toda via, não obstante
Sejamos também a contracapa
Porque ser a capa e ser contracapa
É a beleza da contradição
É negar a si mesmo!
E negar a si mesmo
É muitas vezes encontrar-se com Deus, com o teu Deus”.

Aqui o leitor necessita novamente utilizar o conhecimento de mundo, ao
compreender essa relação de capa e contracapa, onde a capa pode ser
relacionada ao exterior, a aparência e a contracapa, onde geralmente
está um resumo da obra, pode ser relacionada à essência do indivíduo.
E o autor fala que isso é uma contradição mas que não num sentido
ruim pois tal contradição levaria uma negação de si e uma identificação
com um todo (encontrar-se com Deus).

“Sem horas e sem dores
Que nesse momento que cada um se encontra aqui agora
Um possa se encontrar no outro e o outro no um
Até porque
Tem horas que a gente se pergunta
Por que é que não se junta
Tudo numa coisa só?”

E para finalizar, o autor traz uma reflexão sobre a relação do indivíduo
(Sujeito) com o outro, trazendo uma ideia de que se deve buscar uma
identificação mais próxima com o outro quando questiona “por que é
que não se junta tudo numa coisa só”. Então aqui vemos a necessidade
do leitor ter um conhecimento ilocucional, conhecer a intenção do autor.

Referências

KOCH, Ingedore Vilaça; ELIAS, Vanda Maria. Leitura, sistemas de
conhecimento e processamento textual. Ler e Compreender: Os
sentidos do texto. São Paulo: Editora Contexto, 2008. p. 39 – 56.

O TEATRO MÁGICO. Sintaxe à Vontade. O Teatro Mágico, 2013.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=x71Oy7bH6o8.
Acesso em 12 dez. 2021.

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